Porta, Alberto Moreira Ferreira

 


Depois de eu morrer diria que o vento jamais foi desencanto 
E que o coração para lá do rio tem margens belas
Depois não haverá mais imóveis 
Dormirei sereno com o coração frio
Depois de roxo e mais
Mais ave menos ave há de haver 
Haverá com certeza poesia 






Eu desejei sempre a tua presença 
Olhava para o relógio, via as horas
E agora que te ausentaste - E de
;Que nos serve as horas mortas
Agora as árvores não são mais verdes
Mas tu, continuas aqui presente






Os olhos breve eternidade 
Cuja luz vão levando pelo ar
Sugerem a tarde pela noite
Da tristeza triste poesia

Olhando o silêncio das coisas vãs
Tive a sorte de ter uma alegria 
Por isso não registo devaneios 
Sequer a saudade para chorar 

Os barcos de seda não teem
No amor a certeza e eu tenho
Vejo na tua coragem a arte
E eu quero sempre mais e eu

Depois não tenho muito a dizer 
Sobre os milagres em que não acredito
Além das benfeitorias do amor






Não queria e; ter amor é ter destino
Numa ideia peregrina, romancesca
Adequada, todo o amor impossível
Não desaparece e apenas se afasta

Todo o amor impossível é, possível
Eu, fiquei algures por aí sem norte
A minha ágata desapareceu e eu só 
Andei sem saber o que fazer comigo






Antes demais esperava ver a loiça 
Arrumada no escorredor mover-
se sem receio de perder o brilho
E a neve do candeeiro pintar a carta

Quantas chávenas viram cair o cabelo
E a cadeira verde da sala amadurecida 
Arrastar portas fechadas como se a leste
As portas saíssem do sono sem névoa 

Sem chave o ovo projeta uma estrela 
O velho parado pode ir a todo o lado
E à luz das minhas aves o lume não cala
A água do coração, a porta, a folha 
De madeira, o ferro nupcial

Queremos abrir a passagem
Sonhamos. Lembramos e não 
Lembramos como chegamos 
                   Ao mar





Enfrenta esse dom que tens
De nos abandonares, leva
O movimento marcial que 
Aqui faz frio e traz de volta 
Traz-me de volta a humanidade 

Ad hoc - Ninguém se declara 
Pedra azul, noite, a caneca
A meter água e nós vemos
O frémito dos barcos a ir
Horizontais para a escuridão 

Anda, leva o bélico soprador
As raposas, os anjos, os cães 
Traz argila às costelas à
Boquinha do ovo cozido
Pomos o supera dor sobre as feridas

O amor secou e subitamente 
A malha ficou molhada
Chove que nasce lágrimas dos céus 
E tudo é negro, negro e azul
Curto breve negro e azul

As unhas de gel vermelho Ferrari 
Os dentes na mesinha de cabeceira
O rímel sinuoso, a pornografia 
Os croissants de cada manhã 
Os pássaros que se escondem 

Vitória Vitória - leva o supérfluo, tudo
É pedra kamikaze em grande escala
E então! Também tu estás morto
E jazes entre velas e flores cortadas
Não... Não! Imaginas o inferno

Leva os cabelos postiços da Trump
Tower a sede a fome o esquecimento 
Todos quantos sabemos mortos, nós 
Sabemos o significado de um certo
Grau de indecência

O teu filho morreu e o teu filho
Não morreu, não morreu em Jerusalém
Não morreu em Portugal, o teu filho não 
Morreu e morreu

Caro Deus, mexe-me essas palhas
             deixa-te de merdas e traz
Traz-me de volta a humanidade 






Tu és o que de mais divino,
A única brancura da minha vida,
A fronteira do meu delírio

Contigo tenho aprendido a respirar,
A deixar a penumbra, a extinguir
A noite, a sombra que me roubava
O ser, infinito

Tu és a magnificência docemente
Transformadora deste que se vai
Despindo respirando e conhecendo um
Bem me quer 

Rosa fogo, flor, o teu sorriso é o melhor
Motivo para um sol nascer e adiar
O ermo do entardecer, pelo blue sunset,
Obrigado menina, obrigado amor







Deitamos fora a criança
Porque achamos que não podemos
Sustentar a criança
Porque a cidade quer um arbusto
Eu nunca fiz uma maldade tão grande
Dentro do bolso tenho uma coisa engraçada
Que choca com portas telhados e braços
A criança que me tem dado muito trabalho
De quem não consigo nem me quero livrar
Eu sei que andam nos céus à pesca
Eu canso-me de deitar livros ao lixo
Não entendo porque são tão chatos
Adultos cansados tristes e aborrecidos
Enfim, certos livros estão melhor no lixo
Mas a criança, a criança feliz entre os pingos
Continuará à minha guarda
Quiçá para sempre (espero)
No bolso a pegar comigo







Que andas tu a procurar 

A tristeza, uma bomba transitória
A felicidade uma boa efemeridade
Olha o mar, não é tão imenso assim
A vida tem princípio meio e fim

A eternidade é como o tal olhar
Que se perde atrás das nuvens
E desaparece no dobrar dos sinos
Quando nada mais resta a vida 

Acabou E o amor vai continuar