Derradeiros Possíveis, Alberto Moreira Ferreira



Está aí o inverno e a noite é um repositor de medos onde me torno estéril num espartilho de ânsias

Desconfio das sombras como dos mortos, as folhas caídas no chão no chão continuam desde meados de outono

Estou sozinho, não adotei um gato e nenhum cão comeria os ossos da minha sorte, nenhum é luz, serviria apenas para guardar a noite

É quase natal e estou seguro que hei de ter

Uma ilusão! Ontem com todo o amor do mundo roubado fizeram uma árvore 

Por enquanto tenho medo. Logo à luz da manhã verei o que posso fazer





Num dia estás na guerra, num lugar
De gás e poeira dentro duma nebulosa
Aí o orgulho e o desapreço caminham
De mãos dadas com o valor da vida
Que vale nada - Mais tarde, à noite
Estás noutro lugar de nuvens gigantes
De gás e poeira aonde a gravidade
Faz com que de tudo acumulado nasçam
Estrelas no ar gélido onde pernoitas
Paralisada desmontada procurando
Voltar atrás e os mortos não te largam
Não se afastam
Os mortos não te deixam





Eu sou a morte bela
E eu amo-te melhor
Bela, tu, estás morta
Eu vou amar-te melhor

Bela tocas-me e, logo voltas
As palavras que deixamos na cama
Bela, sou eu, sou eu a morte
Eu vou amar-te melhor bela

Eu sou a bala de capa preta bela eu
Amo-te melhor bela, tu estás morta
Melhor do que nunca bela
Fogo estranho - Fogo fátuo

Ó bela, bela, ó bela
Vamos fazer insectos




Esta manhã auando abri a janela do quarto a aurora boreal tinha uma cor positiva de nuances sexys expressionista de um otimismo auxiliar da beleza a calar o negacionismo dos que duvidam do poder do amor




O Louvre foi assaltado, roubaram a Mona Lisa, La Gioconda. Todos gostam de museus e eu gosto de tudo a... Andar! Eu tenho de gostar do Rio Torto, do Rio Tinto, do Rio Couce, tenho de gostar dos outros rios como gosto do Rio Douro. Eu tenho de gostar do Soldado Desconhecido, do Largo do Souto, de Cimo da Serra. Eu tenho de gostar da Nossa Senhora das Dores e nem da Nossa Senhora dos Remédios gosto. Eu não gosto doutros lugares doutros sítios doutros fins, enfim, como gosto do Porto, eu que tenho um amor em Lisboa. Eu não posso gostar somente do espelho do meu quarto cuja silhueta que vejo quando o olho não gosto, ou nem gosto assim tanto, ou gosto e não gosto, depende dos critérios que aplicar à denominação de gosto, uma vez que o bom e o mau gosto no caso desobedece à estética de boa ou má qualidade da imagem. Eu tenho de gostar dele como gosto dela, será que gosto dela o suficiente para gostar dele, talvez tenha de gostar mais dele para gostar dela, a imagem da silhueta que vejo no espelho quando o olho. E tudo foge, e tudo se esconde. Eu tenho de gostar do gordo que nem é assim tão gordo ou talvez nem gordo seja sob outro olhar como penso e sinto amar uma bela e preciosa flor, rosa orgânica, em ouro lei, a andar. Eu tenho, tenho de gostar mais, muito mais se não, o tempo vai acabar.






Corações, quimeras, delírios
Ah, todos os anos bêbados
Verdes perfumes escuras
Iluminações gargantas azuis
Olhos fechados triste desejo
Pretos prados desprovidos
Novos lugares velhos fados
Avernos, horas queimadas
Só por hoje só por si, enforcados
O que será pior, assobiar 
Ou pensar combater o fogo
                        ?!





Viver excede a compreensão. A vida é uma benção da natureza. A morte um defeito de Deus. Saber que se vai morrer abre a porta à vida ou fecha-a a quem respirar paralisado. É mais seguro ser brando e viver pálido. Eu gosto de amar a vida ardentemente. Eu gosto de lhe morder os mamilos, por a língua na vulva, e mais, muito mais, gosto de a olhar nos olhos e senti-la em liberdade, gosto, gosto de aproveitar, gosto, gosto de provar o creme da sua boca menina, de a amar enquando dura, na cama no chão em pé, sem planos, enfim, viva a loucura.





Enterraste-te na lama e embebido 
Nessa massa de terra molhado
Tudo te é desilusão e odeias a forma

A vida marinha... corta. Talvez tu
Não odeies, já te ouvi falar bem dela
Sem qualquer estímulo sexual
O empático em ti...

A escuridão será efeito do Baby 
Blue, não perdeste o cheiro e o gosto
Ok, a poesia parece ter acabado





As pessoas só podem compreender o 
incompreensível depois de terem vivido

E não é comum isso acontecer porque o
mundo é cinema e o projecionista apaga a luz

O corajoso nem sempre vai longe, o verdadeiro repõe a luz ensinando acalmando o manicómio

Serve bálsamo ao sistema nervoso central e o hospital... Cuidado com o degrau, olha a cabeça 





Eles são tão grandes e leves
Cães de pedra do tamanho
Da pulga com o peso
Da pirâmide Quéops

Nem o Island Victory
O faz mover um milímetro de cem
Em cem anos, o anormal é normal

Eles foram bons alunos
Aprenderam tudo o que, convém 
Desde o santo burg ao showneck
À prática religiosa x

Pois, o normal é anomalia 
Ou tens um espelho infiel
Ou o cão de pedra demora
Vinte mil anos a sair do sítio

São demasiado leves e pesados são 
Cães de pedra e os cães de pedra 
São ensinados por cães de pedra

Simbiótico da pedra o cão de pedra
É o resultado 
Duma fusão de merda





Estava amar e o automóvel estacionado
Concentrado no fogo de artifício no céu
E a sombra murmurava um amargor de 
Ervas: Ama-te disse ela de faca na mão 

Sim, eu amo-me assim e, não quero ir
No chão o zimbro alcaçuz corpo e voz
A laranja alma no ar e a cor do açafrão
Há folhas que vêm das nuvens, outras

São anjos da guarda, e a vida, é austera 
Parado perco e ganho um vazio e cheio
Eu não quero não me apetece ir mas eu
Tenho de andar, parado o tempo chaga
E o tempo, está a chagar





O seu copo é um punho de aço
Rumo em direção à boca do bebé 
No útero do velho olhos d'água

Nunca comprou flores, nem bonitas
Nem feias, o ermita sempre que olha 
Para o mar contempla-o como se 

Fosse a primeira vez que cheira
La femme, tu comprends, je ne suis pas
Dieu, la vie, le parfum, beau

E, já muito cansado sobre a montanha 
Pensa: A conquista é árdua mas a vida
Merece toda a atenção 





Chove amarras do enxame de nódulos 
E o velho dócil pegou de estaca, Romeu 
Adormecido nos braços de Julieta 

Os porcos selvagens amam o deserto
O camelo solitário a solidão embora
Tente a todo o momento libertar-se dela

Os santos teem mãos casadas pernas
Cegas, ele é mais carne mais banho, ele
Menos banho mais espírito e Cinderela 
É um ar de primavera macieira farta

De saber. Há almas que ficam confusas
Ansiosas, agitadas, ele é um poema ex-
ceptuando as dores calmo longe demais

Não se consegue mover o que não sai
Do sítio e agrava com o tempo, Julieta 
É o amor e é o amor

                                    E só o amor pode
Triste é à noite quando a luz clareia 
E feliz é o regato que, tem no longe
                                    Um coração para 
A M A R
                                    Um dia o destino





Podem dizer
Podem e devem 
Devem e não 
Podem dizer
Que não disse





Entre tudo e nada há algures
Ali aqui, aqui ali e acolá 
Uma chuva que redunda em...

Nalguma coisa de humanidade
Maior cujas linhas existem
Desinteressadas na economia

Laminium não é uma cidade perdida
Mas a mão do mundo (suave) Só ave
Temperado que todos sonhamos 





Com as janelas fechadas não oiço as sirenes
Porque vivo na rua do sol e a doçura dos dias
Bem como a frescura das flores vivas, da pureza 
Do bem me quer à primavera, nomeadamente 
Da mais bela rosa sardenta possível todo o ano
Ao carinho dessa flor completa, é importante para mim

Diante a vida que é fogo, não, não por querer foder
Se pensar no momento, uma maldade muito grande
Quando abro as janelas confrontado com o fim
Fico sem alma perco a língua murcho e nem a bellis perennis
Quando tinha menos idade pensei muito na morte e hoje 
Confesso que
Não me apetece
Nada morrer




Nada faz sentido e tudo faz sentido 
E, tudo não faz sentido, como nada não 
Faz sentido ainda que aos nossos olhos 
Tudo e nada façam sentido porque
Tudo, e nada, não existem.  Depois
Da morte antes da vida em crio terapia
Tu és a minha Deusa, e eu Deus, isto é 
Real. Há em nós muitos mundos, além 
Da realidade meu grande amor e a vida 
É uma espécie de escada querida
Só para Sub Sub... Sub... S U B  I R




Já morri, já ressuscitei, e não sei 
Como
Voltar à vida, de novo, outra vez




Procuro não acordar com o culpável 
Da esponja de banho, da locomotiva 
A vapor numa fuga ao fardo do tempo 
Propondo ao estranho que bem conheço 
E a dias desconheço, outras passagens
Paragens, paisagens, e não há como fugir
Ao que transita que é como tu poema
Azul sem palavras com os dentes cravados 
Na carne sem certezas desenhando com
A sensação de quem não sabe o que sabe
Sentindo o vampiro na pele de quem 
Nunca soube o que sabia, e de fato o 
Que se sabe é como o mundo, sempre
Pouco, e pouco pode ser tanto e tanto
Enfim, é como o mundo




Ontem novo era cedo hoje velho pinta uma manhã, tarde para o mundo




A seca abençoou estes olhos surdos
O vício mergulhou-me no afogado
Pálido à procura traduzindo a maré 
A iluminar o negrume do horizonte

O que tenho é um certo direito ao beijo
Ao alar entre peixes iludido moldando a
Solver as borras do vinho, do marasmo
De um doce sob faíscas e granizo gelado 

Noturnamente quase, a chorar, quase 
Sem saber falar a pedir o sono na pele 
Deste mar sem comer nem morrer por
Um golpe de rins de museus de veludo
De estropiar rosas pérolas criado...

Uma lebre pára, o barco cega, e o dia
Escurece e quando os lábios queimam
O amor é um gesto, arte da mão e esta 
Não castiga, é poesia, Afrodite, um e.xer
.cí.ci.o, luz, é amor. Eu como pedras





Também eu saio ao cheiro
Aos que dormem e se agigantam
Aos corvos que fumam
Aos rouxinóis embriagados

É preciso abrir a porta
Ao próximo que morro
À sombra a fazer o que 
O ímpio designa de bom
Deserdado pelo tempo

Pois, preciso beber muito
A aliviar o ferro do tempo
Dormir para acordar
E acordar noutro dia
Se o abismo tiver um tecto...

Não sei, o tempo é tétrico e o amor
O que é o amor? O amor é 
Sob não sei direi, conheço 
Sim, um aceirado e o amortecedor...





Não conheço nada
O céu soluça
Diante a terra mudada

Que pode um velho conhecer 
O norte o sul 
Os movimentos do cão 

Cores esquecidas 
Que morreram em casas 
Bêbadas sentadas

Branco é azul e o arco íris 
Preto, olhos de vento
Acendem fósforos

Não conheço nada
É-me impossível 
Reconhecer a rotunda

E os barcos de montar
Lembro-me da mãe 
E não conheço o filho

Conhecia o sorriso
A papoila
Se nos olhássemos 

De amor, que é como nós 
Poetas que todos querem
Matar, além disso 

Que podia conhecer
Este oeste horas secas
Manhãs de guerra

Tardes primaveris
No mundo 
Está tudo escondido




A raiva, já não é verdura e os clarões do
Silêncio já não se traduzem em êxtases

E o amor

Encontro-me num caderno em liberdade 
Total, oiço a vida banhada a cantar pópó 
Tudo é prata tenebrosa alquimia oxidada 

Quero ir embora 

E não quero ir embora de qualquer forma
Ainda passa no céu cores nos intervalos
Creio que minto ao dizer que é a primeira 
Vez que tenho fé, e não será, creio, a última 
Que me pergunto se o amor acabou, será 

Talvez o amanhã venha da forma
Como entendemos a matéria 
Ou não entendemos o mundo




Ó ambulâncias, ó médicos 
Qual par de calças rasgadas
Salvo o corpo e a alma tramada...

Ó ouro ó incenso ó mirra
Ó azuis verdes vermelhos 
Eu vos via eu vos via 

Cotovia na minha cabeça
Vindo da florescência, enfim
Paciência, ao sol torrado
Desengraçado na rua

Aquele vento que soprava
Era cedo tédio eu ouvia e
A chuva ó trombas não era frade

Escrevia cartas, que, ninguém lia
Ó ciência eu estou bêbado ela nua
E já é tarde




É preciso pedalar muito para chegar à lua,
Ou então fica-se quieto na lua,
E as restantes fases não se mostram, 
Pelo céu encoberto, 
Sem qualquer possibilidade de chover 




Se me apetecesse enlouquecer 
A vida era uma roda 
E não é que não me apeteça
E que adianta andar 
À roda e não sair do circulo 

Nada, e não é que não seja esta
A realidade, mais ainda nesta idade 
E eu, simplesmente não tenho idade
Não sou ágil nem lento, não tenho 
Amor e tenho amor, não 

Não posso, ocupo um lugar intoxicado
Da vida perambulando
Mais sol menos sol, mais azul menos
Eu quis ser e não existo
Se me apetecesse, se quisesse morria




Expulso do paraíso in vivo
Ébrio pela presença da beleza
E frio por causa das sombras 
Submersas na escuridão 
No ruído intenso das macieiras

Eu lembro-me do mundo 
Bellus no dia em que fui aceite
E o tempo era de equidade 
E pulcher crescia - Easter

Sob a erva a sepultura seria
Como as estrelas in vitro, dollys 
Que brilham rendidas ao morto
Que matou o vivo excluindo 
O coelho da terra




E o amor é uma festa
Onde se pode dançar
Amor é um grassar-se

E, é um chá de cadeira
Fiado e é o amor amor
O melhor aliado




Ter-te aqui
Ainda que
Contigo aí 
É como que
Ressuscitar 
Para viver
Outro dia

E tu podias ter-me
Levado o coração 
Mas não e insistes
Em devolver-me
A alegria




Sonho e acordo
Acordo e sonho
E volto a cair, caio 
Sempre na pele

Eu não te 
Posso prometer 
Um morto

Tu és essa mão viva 
De chuva obscena
Que o meu corpo faminto

A ternura do teu colo
É o leito preciso onde 
Se dobra o vento, sacias 
O céu em chamas e
Trazes a paz ao poema

Eu não digo nada
Apenas que
Quero ficar amor

Eu não sou santo mas branco 
Seria a cor da vida por tanto
No quarto grande da quinta 
Dos Roques, pardon, dos Maias
Querida 




Ela é tal e qual
Exatamente 
Como a joaninha
Voa




Alberto, estás tão perdido
Caramba, nessa condição 
A vida não te ama

Vives o sol a pedra o que 
Resta da volta ao mundo
E desejas tanto a lua toda 
A sua incandescência..., tudo

Eu não conseguia chegar
Mentir, iludir, fazer tudo
Acontecer para nada, nada

Meu caro, diz-lhe somente 
Que amas a vida e, deixa-a 
Andar 




Não sei onde estás mas se me
Ouves avó, Aurora, ela não é 
Apenas uma flor bonita, é fogo
Água pura e tal, como a marinha
Tem o perfume altivo duma rosa
Ela não é! É uma grande mão avó 
Onde a vida mora




Aqui, na profundidade da terra 
o oprimido de outrora 
é agora o agressor, o quadrado 
é redondo e a beleza
sustem a respiração, não se morre
de amor, há lágrimas e demora

Latente está a doença, a ambição 
imoderada, a ideologia no limiar
do sagrado com tudo como a tristeza
que se esconde e a alegria algures
Num caminho por encontrar

Penso em ti ao cair do dia, na
casa, aqui,...
se ao menos houvesse amor




Quando o amante morre
Resta o negócio o túmulo
Obscuro que come e se come
Abarrotar de luz ébria

Eu acabei por perguntar a Deus
Bom por que é que é mau, um
Deus omnipotente, desviante 
Ausente, um monstro que nada
Faz para parar o cruel e segue

Indolente. Ó jardins desesperados
Não será excessivo assim esperar
A morte canta e a sorte é morrer
Ó caneca, a onda, ó movimento 

Obcecado que é feito do criador
Que deveria proteger a sua obra
Aquele que sobre o gelo não verga
Às grandes rochas, aquele poema 
Em falta, não sei com que idade




Nós éramos tão belos e nem 
Amor poderíamos comprar
Não importa o que o tempo faz
E se há tragicidade no sono
Por um fio se fazem rosas
Primaveras, mais, e rios em prosas 
Eu não deixarei de a amar




E sobre o dual dos três irmãos:
A todo o momento, o meu papagaio 
Lambe e ferra. É como palavras sem
Eternidade, a língua corta, os dentes
Inquietam. O meu cão parece querer 
Pescar e eu não, não quero apanhar
Um
Papagaio com as mãos 




Falo de água para esquecer a água 
Falo de amor para não ver o lugar

Onde moro,  sonho um beijo para
Ter asas sal voar e deixar o ninho




Ela vestida em pé está nua deitada
Papoila azul da pedreira inclinada
Coberta de cinza e névoa tão firme

A fugir, tão veste branca que diria
Eterna de contornos longos na mão
Pousada, estendida a tocar no céu

Foi rosa de outra vida e quebrada
Refez-se e é há muito noutra vida
A grande papoila azul, imaculada

E nua é vales montanha rios uma
Ave como nunca antes tinha visto
Pelas janelas e toda a minha imaginação

Toda ela uma folha acordada ancorada
Em movimento, mexe, a sua pele o seu
Aroma... Sensível ao canto do rouxinol

É uma página celeste entreaberta
A ser
Preenchida aprende como todos
Devíamos aprender com o amor